quinta-feira, 18 de outubro de 2007
O embrulhinho de novecentos
E se lhe surgisse assim, do nada, R$ 900,00? Isso mesmo: novecentos reais em notas! Tá, não é muito... Mas pode ajudar a pagar uma conta pendurada, comprar aquele sonhozinho de consumo há tempos adiado, financiar parte daquela festinha planejada, ou viagem, ou pagar o conserto daquele eletrodoméstico encostado etc. Ou seja, não faltam destinações, sempre urgentes, para novecentos reais gratuitos, caídos do céu.
Pois é, e esses novecentos apareceram para uma colega da universidade, a Isabel.
Ela foi levar o filho para uma atividade física num local da av. Mandacaru. Para não ficar parada esperando o filho, resolveu dar uma voltinha na redondeza.
Na calçada do ponto de ônibus, próximo à delegacia da Mulher, minha amiga chuta um pequeno embrulho. Intrigada com sua forma e tamanho, ela resolve abaixar e investigar. Ao abrir, eis o tesouro: novecentos reais!
Dias depois encontro-me com ela na universidade. Queria conversar coisas importantes de trabalho. Perguntei-lhe: Você tem um tempinho agora?
Tinha.
Mas toca seu celular. É da delegacia da Mulher. (Estranhei...)
Alguém quer encontrá-la e lhe pergunta se poderia ser naquele momento. Ela responde afirmativamente. Parece algo urgente...
Minha possibilidade de conversa vai para o ralo.
Uma tal de Dona Maria precisa muito vê-la.
Quando ela desliga é que conheço a história dos novecentos reais.
Ao encontrar o dinheiro, ela foi até a delegacia da Mulher e pediu à delegada de plantão que a ajudasse a encontrar o dono do dinheiro. A delegada não queria esse trabalho, fez-lhe a recomendação: “Minha filha, você achou o dinheiro na rua, ele é seu por direito, vá usá-lo como quiser.” Resposta: “Eu quero usar devolvendo-o para quem o perdeu.”.
Sem alternativa, a delegada procurou o quase-desafortunado.
Aquela ligação confirmava o encontro da pessoa. D. Maria, funcionária aposentada da universidade perdeu o embrulhinho dos novecentos no ponto de ônibus, ao subir no coletivo. Ao perceber a perda, desespero, culpa, dor... Até o telefonema improvável da delegada com a notícia que seu dinheiro seria devolvido integralmente!
A delegada já havia feito a devolução, mas D. Maria estava naquela tarde na universidade à procura de Isabel. Precisava agradecer pessoalmente.
Então Isabel foi receber o abraço. Pergunta-me se eu queria ir lá, "chorar junto". Imaginei o quão emocionante não seria o encontro. Mas declinei. O encontro cabia somente as duas e minha conversa poderia esperar.
Histórias assim são relativamente comuns, embora raramente contadas.
Senti um orgulho besta por Isabel. Feliz por conhecê-la, por conhecer essa história cotidiana, mas cheia de sentimentos bons.
Ganhei o dia.
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2 comentários:
Maravilhosa história, Val. Pode ser comum a perda do dinheiro, mas não a preocupação de quem o achou. Quando você falou da atitude da delegada, eu logo imaginei: é asim mesmo a reação lá. Merece reprodução em meu blog. Permite?
Olá Balestra! Pode colar. Sinto-me honrada. Abraços!
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