sábado, 13 de outubro de 2007

CHE E A ESPERANÇA



Quando meu marido, com um angiosarcoma no pericárdio (a feiúra da nominação indica a gravidade da doença – incurável), encontrava-se no que parecia ser seus últimos dias de vida, procurei ajuda psicoterápica para enfrentar o momento. Uma das coisas que me marcou dessas sessões de análise foi uma observação feita pela terapeuta. Ela me disse que eu precisa ter esperança, ter esperança em algo. Claro que ela não falava na ilusão de que ele sobreviveria à doença. Ela falava de esperança na vida. Aquilo para mim foi a revelação de uma chaga imensa. Sim, eu não tinha esperança. E eu não entendia como seria possível produzir uma esperança. O homem que eu amava em breve não estaria mais comigo e aquilo era devastador. Eu não entendia o que era esperança, não entendia a idéia, o conceito.
Bem, esperança vem de esperar? Parece que sim. Mas não é um esperar passivo. Esperança é um investimento no futuro. É apostar nele.
Hoje eu vejo que essa experiência particular é reveladora do quanto eu sou uma pessoa do meu tempo. Isso quer dizer que as pessoas dessa geração (atual) se caracterizam pela desesperança. Não há crença no futuro e, portanto, não se investe nele. O investimento é no agora.
Tá, e o que tudo isso tem a ver com Guevara?
Bem, tem a ver com o que Guevara representou para mim na adolescência. Guevara foi um símbolo de pessoa, um ídolo. Eu fui uma das muitas apaixonadas por Che. Aos 14 anos li uma biografia e um dado diário que se dizia seu (não sei se era mesmo)que me impactaram...

Hoje se fala que Guevara era um idealista. E ao dizer idealista se infere “um insano, um tolo, um ingênuo, um alguém-que-não-se-deve-levar-a-sério...”
Eu concordo que ele foi um idealista, porém não vejo nisso nada de pejorativo.
Ser idealista é fundamental.
O idealismo dele foi um dos alimentos para a produção da minha esperança em mim na adolescência. Sem esse combustível não teria enfrentado os obstáculos da vida.
Sou cientista social, antropóloga que lida com populações indígenas... Todo cientista social que se preza é um tanto idealista.
Gente, quando saiu Diários de Motocicleta (Walter Salles) eu chorei de me acabar. Voltei aos 14!
Hoje ainda me pergunto onde posso resgatar a esperança e lembrar a importância de Che na minha trajetória ajuda bastante nessa reflexão.
Os liberais ficam loucos com a sobrevivência do herói Guevara, né? (vide revista Veja – eca! Cuspe-cuspe!!) E pressinto que essa sobrevivência será longa.
Eu de minha parte já conto versões simplificadas e encantadoras do herói para minha filhota (hééé!!!).
As viúvas de Che são muitas. Ainda bem!

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