O colega blogueiro Balestra sugeriu que eu desse meu pitaco no post dela. Mas eu achei melhor não. Sabe como é... Minha opinião é um pouco divergente e daí que não quero gerar polêmica. Eu entendo a resistência da academia em aceitar uma proposta de tese como a que ela pensava. Do jeito que ela aparece se percebe estar muito marcada pela subjetividade, por julgamento de valor. E isso não é bem visto como uma boa base acadêmica ou científica para respaldar uma tese. Se eu fosse uma potencial orientadora também proporia outro caminho.
Esse tema me lembrou na hora Clarice Lispector. E eu amo Lispector. E ela dizia ser contrária à idéia de uma literatura feminina. Para ela pouco importava o gênero do autor. Importava era o que escrevia e o que escrevia deveria ser algo que interessasse a nós como humanos e não como masculino ou feminino. Enfim, a escrita literária deveria ser universal e humanística. Algo assim ela pensava. Tanto que recusava a distinção poeta/poetiza. Para ela só existiam poetas e ponto final. Sou muito mais simpática a essa posição da Lispector.
Por outro lado entendo e não descarto a importância do feminismo de forma geral. Eu não sou feminista de carteirinha. Não milito. Mas não deixo de identificar retaliações e ações preconceituosas pautadas no machismo. Ações feitas por homens e mulheres, é bom sublinhar. E quando as identifico, sem dúvida reajo. E a reação se vale muito do feminismo. Enfim, valho-me das palavras de Nélida Piñon, em uma entrevista dada a Lispector na década de 1970:
- Você divide poeta de poetiza, literatura feminina de literatura masculina?
“A linguagem é produto do exercício do poder, que entre nós é masculino. Essas divisões clássicas estão a serviço da sociedade masculina, responsável pelo ato de nominar ‘feminina’ a produção da mulher de sensibilidade exacerbada, diariamente contrariada e diminuída pela lista de haveres domésticos. Deste modo, mesmo a mulher de escritura ‘masculina’ (máximo de elogio), nada mais fez que adotar o ponto de vista cultural da sociedade masculina, de que se origina. Pensamos segundo cânones masculinos, o que ironicamente determina que mesmo as escritoras pejorativamente chamadas de ‘femininas’ expressem também sentimentos masculinos, ainda que reprimidos, e sejam pois a contrafação daquela literatura. Ignoro como virá a ser uma sociedade cultural realmente contaminada pelo ponto de vista da mulher, após conquistar ela plena e absoluta igualdade. Até o momento, somos uma das regras do decálogo masculino, razão de se tornar ingrata a tarefa de defender a escritora que escreve como homem, e lamentar a que escreve como mulher. Seria uma injustiça e terrível luta de classe.”
- Você é feminista? O que é que reivindica para a mulher brasileira?“O feminismo é uma conseqüência da minha condição de mulher. Quanto mais habilito-me a interpretar o mundo, melhor compreendo a necessidade de se conquistar uma identidade, que unicamente uma consciência ativa e alerta nos pode conferir. Sou naturalmente feminista, e aspiro para a mulher, independentemente desenvolvida, capaz de integrar-se ao centro das decisões, de que esteve sempre excluída, a ajudar a tornar possível e melhor a vida comunitária dos nossos tempos.”
(In: Clarice Lispector, Entrevistas. Ed. Rocco)
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
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Um comentário:
Val, só lhe “cutuquei” porque sabia que você, na qualidade de mestra universitária, teria uma opinião formada sobre o assunto. Vejo que não errei. Desculpe a “seda”. Mas é sincera: tão-só na introdução de seu comentário você já conseguiu, sutilmente, sem polemizar (como disse evitar), informar qual o norte do entendimento unicamente técnico de orientação – não subjetivo, marcado por experiências pessoais – sobre a recusa da tese da blogueira.
Apesar de não saber ser viável (didaticamente), uma vez que atualmente não freqüento nenhum curso da UEM, mas eu gostaria de lhe sugerir: seria o caso de se propor um debate sobre o tema “TESES : ORIENTAÇÃO” no estilo daquele que vi naquela noite no anfiteatro em que foi maravilhosamente tratado acerca dos Índios do Xingu? É que para a maioria das pessoas que têm algum interesse (eu uma delas) em produzir trabalhos científicos, os custos normalmente proibitivos derruem qualquer idéia no nascedouro. Então porque não incentivar algo singular assim? Loucura de minha parte? Ilusão? Muito sol na cabeça? Se quiser, pode responder em meu e-mail: zerobertobalestra@gmail.com), ok?
Quanto a Clarice e Nélida, são duas ILUMINADAS, muito embora eu não defenda esses tapumes eternos entre homens e mulheres, porque - como eu já disse certa vez – entendo que ambos são complementares e não submissos; as diferenças são que os atraem. Nem feminista e nem muito menos machista. Estes conceitos me parecem uma flecha com duas pontas; serventia nenhuma. Nem me passa pela cabeça dar crédito àquela coisa de “costela” de Adão e coisa e tal. Abração à você à filhona!
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