terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

AVAREÍS

Eu fui lá, né?
Índios sem espaço para viverem, precisando de terras demarcadas e reconhecidas pelo estado. Fui lá fazer esse trabalho social, antropóloga que sou. Pois que fique claro, não há remuneração.
Eu estudo esta etnia há mais de 10 anos. São reconhecidamente pacíficos.
Seus problemas (graves) de contato com a sociedade nacional costumam ser exaustivamente negociados. Apóiam-se na postura diplomática.
É preciso muito, mais muito mesmo para usarem a agressão.
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Sempre fui bem recebida nas aldeias. Pelo respeito mútuo. E não foi diferente dessa vez. Mais uma vez bem acolhida pela comunidade que vive em condições graves e adversas.
Contudo, parte dos presentes estava descontente com a Funai. E no nosso retorno à aldeia, encontramos um clima bem diferente.
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Eita! Lembra-se aí leitor daquelas notícias de índios que prendem servidores da Funai para que suas reivindicações sejam atendidas?
Pois de repente eu achei que estava prestes a viver a mesma situação.
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Ao chegarmos, a comunidade estava em reunião e muitos deles tinham seus rostos pintados, alguns armados com arcos e flechas e facões.
Estavam como ‘avareís’. Ou seja, como “índios selvagens, bravos, do mato”.

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Momento tenso, tenso, tenso. Nos intimaram a participar da reunião. Discursaram em altos decibéis nos nossos ouvidos. O que não é comum. Claramente se percebia a influência de instituições religiosas exógenas. Falar baixo é o costume.
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Foi preciso paciência. Foi preciso responder repetidamente a mesma questão diplomaticamente.
Progressivamente os mais bravos se amansaram, dominaram seus avareís. E no fim, nos agradeciam pela presença e pelo trabalho para a demarcação da terra.
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Foi uma lição e tanto de antropologia!

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