segunda-feira, 24 de setembro de 2007

FUNAI

Eu sou antropóloga. Antropóloga que possui como interesse de estudo, um certo grupo indígena (grupo, comunidade, sociedade... não tribo, pelo-amor-de-deus, tribo não! Tribo é um termo obsoleto, usado ainda leigamente e que remete a uma visão pseudo-evolucionista).
Bem, e quem lida com índios, leva no pacote a FUNAI (Fundação Nacional do Índio). Em todos esses anos, participei de umas boas dúzias de reuniões com representantes da FUNAI para discutir questões (geralmente fundiárias) que afetam o grupo indígena no qual tornei-me especialista. Curioso, constato hoje, que tais reuniões nunca aconteceram na sede da FUNAI, em Brasília. Mesmo em outra ocasião quando fui nessa cidade, essa e outras reuniões aconteceram em outros locais.
Bem, na semana que passou participei de mais uma reunião com representantes desse órgão governamental. E pela primeira vez entrei na sua sede.

Desalentador.
Embora há muito saiba do sucateamento dessa instituição, foi triste observar como o prédio da FUNAI materializa tão bem a realidade do processo de indigência galopante.
Usar o elevador implicava em alto risco. Não houve qualquer um dos três dias de reunião sem que, pelo menos por algumas horas, os elevadores ficassem indisponíveis para serem consertados.

No seu interior, era preciso adivinhar qual seria o botão do terceiro andar (onde aconteceu a reunião).

Algumas vezes enquanto usávamos o elevador eu pensava uns absurdos: "Aqui estão espremidos antropólogos das regiões sul e sudeste do país, se o elevador emperrasse agora, se ficássemos presos por algumas horas, viria a imprensa, haveria barulho e talvez a precariedade gritante da FUNAI ganharia visibilidade e talvez isso despertasse um pouco de vergonha e talvez..." Mas aí o elevador se abre e todos saem falantes e alheios a estrutura do edifício. Minha esperança por um acidente morre. E mesmo isso é um delírio, acreditar que só uma pseudo-tragédia pode mobilizar mudanças. O que é isso??? Acidentes significativos aconteceram no país e só sensibilizaram nos primeiros quinze minutos (ou quinze horas ou quinze dias) e nada mais. Quem se sensibiliza pelos povos indígenas? Meia dúzia de três ou quatro, ou seja, aqueles que estavam ali no prédio em frangalhos. (...)
Se a FUNAI está assim, é possível imaginar a quantas estão os povos indígenas que necessitam de seu apoio nos embates com grupos de poder contrários aos seus direitos.
Na sala improvisada para a reunião, uma das paredes possui uma imagem do presidente da república sorridente... Parede com rachaduras, pintura descascando, sinais de infiltração.
O presidente sorri porque não vê nada, não sabe de nada.
A parede pode cair, mas o presidente (dito popular, porque originário das classes populares) continuará sorrindo.

(Clique na imagem para ver melhor)

2 comentários:

Anônimo disse...

VAl, é por essas e outras que quando ouço o nonidáctilo falar "... ninguém neste país...", me dá nojo só da voz, quanto mais das reais intenções que moram dentro dele et caterva.

Marta Bellini disse...

puTZ! E AINDA TEM A FOTO DO EL MENSALEIRO!