domingo, 9 de setembro de 2007

Eu-coisa

Adorei esse poema de Manoel de Barros:

RETRATO DO ARTISTA QUANDO COISA

A menina apareceu grávida de um gavião.
Veio falou para a mãe: o gavião me desmoçou.
A mãe disse: Você vai parir uma árvore para
a gente comer goiaba nela.
E comeram goiaba.
Naquele tempo de dantes não havia limites
para ser.
Se a gente encostava em ser ave ganhava o poder de alçar.
Se a gente falasse a partir de um córrego
a gente pegava murmúrios.
Não havia comportamento de estar.
Pessoas viravam árvore.
Pedras viravam rouxinóis.
Depois veio a ordem das coisas e as pedras
têm que rolar seu destino de pedra para o resto
dos tempos.
Só as palavras não foram castigadas com
a ordem natural das coisas.
As palavras continuam com seus deslimites.
(Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro: Record. 1998)

Um comentário:

Marta Bellini disse...

Valeria,

è para vc o meme! veja lá!